terça-feira, fevereiro 23, 2010

Depois do fim.

O funcionário olha para a senhora. Ela chora. O funcionário olha em volta, oferece água, procura uma consolação a ser dita, mas não acha nenhuma honesta.

A senhora chora. Ele espera. As horas passam. Ela se recompõe.

O funcionário retoma o fio de sua teia: "Como eu ia dizendo, o melhor acordo que eu posso oferecer..."

Ele volta para casa, vai à academia, faz compras, vê filmes. Deita. Sonha com as contas não pagas, e acorda no escuro. Se levanta, vai ao banheiro, se tranca, pega a lâmina atrás do espelho e senta. Abre as pernas brancas e lentamente, com precisão de burocrata, faz longos cortes, paralelos, nas coxas. Depois, sobe para a barriga. Depois, para o peito. Aí, pára, antes da altura do primeiro botão, sempre aberto, da camisa de sempre.

Consegue dormir, sobre os azulejos. Com todas as contas ainda por pagar.