segunda-feira, março 26, 2007

Duas rainhas


Dois filmes, duas rainhas. Ambas vistas de muito perto, como mulheres perplexas e meio divorciadas de seu povo. Como investigar o que se passa na cabeça dessas jovens senhoras? Se aqui estou escrevendo, é justamente para tentar organizar em minha cabeça tantas impressões. O que funciona, o que não funciona, em cada um? Por que eu gostei mais de Elizabeth, embora, à medida que os dias passam, comece a reconhecer o valor de Maria Antonieta?

Para a rainha jovem, anos e décadas, às vezes comprimidos em uma única cena. Para a rainha velha, quase tudo se passa em uma semana dissecada à exaustão. Para a rainha jovem, um grande cuidado visual que resulta em cores e texturas que deviam ser proibidas pra menores. Para a rainha velha, um grande cuidado visual que quer parecer asséptico e documental. Para a rainha jovem, a diretora não dá falas que lhe permitam dizer o que sente; fica tudo por conta de sua expressividade enquanto atriz. Para a rainha velha, o diretor dá diálogo sobre diálogo, verbalizando quase todas as nuances desse sentimento que vai mudando ao longo dos dias.
Talvez tenha sido muito arriscado deixar toda a psicologia da rainha à mercê do rosto de Kirsten Dunst. Em muitos momentos, não consegui captar os sentimentos em seu rosto. Sobrei, sobrei, e sobrei. Ou seja, pode ser que a culpa seja minha, mas a grande empatia só surgiu naqueles momentos em que ficava muito claro que ela era "criança como você", apenas mais um barco à deriva nessa vida. Já com Helen Mirren, ninguém sobra. Independente das qualidades dela como atriz, lá está o texto texto texto deixando tudo bem explicadinho.

Conclusões? Nenhuma. Ainda. Cadê Cris? Mas só pra registrar: juntando todas as cenas dos dois filmes, nada consegue ser tão significativo (pessoalmente falando) do que Maria Antonieta bêbada, no meio dos amigos, indo ver o sol nascer nos jardins do palácio. Este momento, tão repetido ao longo dos séculos por tantos jovens, já deve ter se incorporado ao DNA humano, e foi filmado com uma beleza indescritível: as vozes, a luz que vai surgindo, a alegria construída e frágil... foi possível sentir até o frescor da relva úmida.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

rapaaaz... e agora, o que eu digo?

direi:

NÉ?

quinta-feira, março 29, 2007 2:12:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

eu tenho a impressão de que você sentiu o maria antonieta próximo de como eu senti. mas sabe o que eu acho? kirsten dunst compreende bem sofia coppola, e vice-versa. e isso me faz confiar na recorrente escolha da filha do homem pela mocinha do homem-aranha. e sobre aqueles momentos que você citou, meu caro, da farrinha entre amigos, o nascer-do-sol... eu algumas vezes engasguei, chorei... a beleza dessas cenas eram um cristal. assim como a despedida no final, que acabou por me quebrar.

e helen mirren me arrebatou direitinho pro seu reinado.

quinta-feira, março 29, 2007 2:22:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

acredita que o "ma" foi vaiado na premiére em cannes? ran! lá hoje em dia se vaia os melhores filmes.

quinta-feira, março 29, 2007 2:24:00 AM  
Blogger Juliano said...

Eu sei dessa história. É que os franceses são todos uns chatos. Admiráveis em mil coisas, mas chatos.

quinta-feira, março 29, 2007 12:31:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nãããããão!

Os franceses não são chatos! A Maria Antonieta de sofia Coppola é uma chata! (mas a trilha sonora do filme é legal....)

Eu gostei muito mais da Rainha!

quinta-feira, março 29, 2007 5:23:00 PM  

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