quinta-feira, março 08, 2007

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Acabou o amor. Abriu as janelas e as portas, trocou os lençóis, lavou o chão, comprou flores e incenso, mas continuava a senti-lo por perto. O amor não estava nestes objetos.

Guardou cartas e presentes, passou a freqüentar outros lugares, inventou novos amigos, mas seu cheiro continuava lá – o amor não estava nos hábitos. Como último recurso, abriu mão do que pensava serem todos os vestígios: jogou fora as roupas (velhas e novas), raspou os cabelos (por entre cujos fios aquela mão passara), tocou fogo na casa (com as cartas e presentes dentro), mas tampouco estava o amor em signos.

Depois (impossível dizer quanto tempo isso significa), morando numa esquina de um país onde era estrangeiro, o fedor do seu próprio mijo não mascarava o cheiro antigo que o perseguia. Consciente do que fazia, arrancou a própria pele para livrar-se do passado. E, apesar de os passantes chamarem-no louco!, prosseguiu o desfazer-se: em seguida à pele, deitou fora carnes, fáscias, músculos, veias, artérias, vasos linfáticos, nervos, tendões, ligamentos e um caco de vidro que lhe ficara no meio disto tudo desde um acidente de infância.

Finalmente despido por completo, sorria: só então sentia a presença doída se esvaindo. Estava sim, agora, livre. E não mais importava se era à custa de deixar de ser a si mesmo enquanto ser vivo.

3 Comments:

Blogger Iris Helena said...

Permita que eu salve este teu texto no meu computado como preferidos.
Vecê escreve tão lindo...adoro visitar teu espaço!
muáá ;*

sexta-feira, março 09, 2007 1:10:00 AM  
Blogger Bia Cagliani said...

Muito bom!
Muito mesmooo!

:D

domingo, março 11, 2007 2:17:00 PM  
Blogger Iris Helena said...

linkei teu blog no meu, viu moço?

muá ;*

segunda-feira, março 12, 2007 2:38:00 AM  

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