quinta-feira, julho 26, 2007
terça-feira, julho 24, 2007
Bauman no saguão
Perdi a tarde, a noite e a madrugada de ontem em vários aeroportos do Brasil, tentando chegar de volta em casa, e, conseqüentemente, perdi a manhã e a tarde de hoje dormindo. E só via funcionários tensos, atrapalhados, tudo não funcionando nem acontecendo como deveria. Isso pra não contar minha mala extraviada na viagem de ida. E provavelmente vou ter problemas para chegar em Salvador amanhã, por motivos idem.
Acho que isso tudo me habilita ao depoimento seguinte. Eu tenho o maior desprezo pela histeria da classe média diante do que a imprensa denominou "caos aéreo". Tenho mesmo um regozijo secreto com as pessoas perplexas em seus "até quando?", "só no Brasil" ou "fui ultrajado".
Não que os atrasos, filas etc não sejam absurdos (porque são) e não que o governo em geral, e Lula e os ministros em particular estejam certos (porque na verdade estão sendo omissos e fazendo merda). Mas é que esse tal de "caos aéreo" não é nem um pouco maior do que o caos do transporte público, o caos educacional, o caos habitacional, ou o caos da saúde. Por mais grave que seja o problema dos aeroportos, e por mais que o transporte aéreo tenha se popularizado, ele continua atingindo a minoria da população. Enquanto isso, a maioria dos brasileiros paga, há décadas ou séculos, o seu tributo diário em horas, horas e horas de trens lotados, ônibus sujos e metrôs inexistentes. Paga tributo em vidas com o horror da saúde, paga tributo em desemprego com o horror da educação... só que isso não incomoda os editores da Veja ou da Globo. Isso só choca o seu professor universitário ou seu vereador muito superficialmente.
No fundo, o que estamos vendo agora é um pouco de democracia da desgraça, um pouco de miséria para todos, um pouco de Cuba (e quem é louco de querer Cuba? Eu não quero mais já há alguns anos). Mesmo assim, não nego meu regozijo diante dos executivos em seus dias de peão. Já estava na hora.
E agora? Não se preocupem, por bem ou por mal a classe média vai se livrar disso, ela sempre consegue. Ou privatizando de vez a Infraero (e do novo o "até quando?" da Veja deixa claro o discurso da privatização próxima), ou criando um sistema paralelo privado para os ricos (ao qual a classe média vai se rasgar para conseguir ter acesso, mas no final conseguirá), ou, o que seria realmente novidade, ajeitando o serviço público dos aeroportos. Só garanto que você e seus amigos não vai se sujeitar ao caos por muito tempo. Vamos deixar o caos para as mulheres que lavam nossas privadas e os homens que cuidam de nossas portarias.
* Bastante tocado por Catalina Sandino Moreno, genial, no curta Loin du 16ème, de Walter Salles e Daniela Thomas, geniais. Ela é uma babá diariamente roubada, por horas, da convivência com seu bebê, por esse tal de transporte público – e isso dentro de um filme chamado Paris, eu te amo. O que dizer do Brasil?
** Toda a minha compaixão (enquanto sentir como minha a dor que é de um humano como eu) diante dos milhares de vítimas de Congonhas. Meus recalques não vão tão longe a ponto de estender meu regozijo a isso.
*** Créditos para André, que foi quem começou a me abrir os olhos pra tudo isso.
Acho que isso tudo me habilita ao depoimento seguinte. Eu tenho o maior desprezo pela histeria da classe média diante do que a imprensa denominou "caos aéreo". Tenho mesmo um regozijo secreto com as pessoas perplexas em seus "até quando?", "só no Brasil" ou "fui ultrajado".
Não que os atrasos, filas etc não sejam absurdos (porque são) e não que o governo em geral, e Lula e os ministros em particular estejam certos (porque na verdade estão sendo omissos e fazendo merda). Mas é que esse tal de "caos aéreo" não é nem um pouco maior do que o caos do transporte público, o caos educacional, o caos habitacional, ou o caos da saúde. Por mais grave que seja o problema dos aeroportos, e por mais que o transporte aéreo tenha se popularizado, ele continua atingindo a minoria da população. Enquanto isso, a maioria dos brasileiros paga, há décadas ou séculos, o seu tributo diário em horas, horas e horas de trens lotados, ônibus sujos e metrôs inexistentes. Paga tributo em vidas com o horror da saúde, paga tributo em desemprego com o horror da educação... só que isso não incomoda os editores da Veja ou da Globo. Isso só choca o seu professor universitário ou seu vereador muito superficialmente.
No fundo, o que estamos vendo agora é um pouco de democracia da desgraça, um pouco de miséria para todos, um pouco de Cuba (e quem é louco de querer Cuba? Eu não quero mais já há alguns anos). Mesmo assim, não nego meu regozijo diante dos executivos em seus dias de peão. Já estava na hora.
E agora? Não se preocupem, por bem ou por mal a classe média vai se livrar disso, ela sempre consegue. Ou privatizando de vez a Infraero (e do novo o "até quando?" da Veja deixa claro o discurso da privatização próxima), ou criando um sistema paralelo privado para os ricos (ao qual a classe média vai se rasgar para conseguir ter acesso, mas no final conseguirá), ou, o que seria realmente novidade, ajeitando o serviço público dos aeroportos. Só garanto que você e seus amigos não vai se sujeitar ao caos por muito tempo. Vamos deixar o caos para as mulheres que lavam nossas privadas e os homens que cuidam de nossas portarias.
* Bastante tocado por Catalina Sandino Moreno, genial, no curta Loin du 16ème, de Walter Salles e Daniela Thomas, geniais. Ela é uma babá diariamente roubada, por horas, da convivência com seu bebê, por esse tal de transporte público – e isso dentro de um filme chamado Paris, eu te amo. O que dizer do Brasil?
** Toda a minha compaixão (enquanto sentir como minha a dor que é de um humano como eu) diante dos milhares de vítimas de Congonhas. Meus recalques não vão tão longe a ponto de estender meu regozijo a isso.
*** Créditos para André, que foi quem começou a me abrir os olhos pra tudo isso.
quinta-feira, julho 12, 2007
quarta-feira, julho 11, 2007
Email para Carlota
Então,
Estou bem sim. Estou de volta ao velho nível de estresse, e produzindo, e isso me faz bem.
E estou de volta lindamente namorando, e isso também me faz bem.
Ver tudo igual, mas diferente, como se a vida fosse uma espiral, e não um círculo, e estar bem com isso, é muito novo. Porque pode significar que eu posso conviver com minha velha vida sem mais tanto conflito (ou então que a minha nova vida estava uma tal merda, que voltar à antiga fica de repente doce).
Mas hoje estou otimista, então fico com a primeira opção.
Beijos,
J.
Estou bem sim. Estou de volta ao velho nível de estresse, e produzindo, e isso me faz bem.
E estou de volta lindamente namorando, e isso também me faz bem.
Ver tudo igual, mas diferente, como se a vida fosse uma espiral, e não um círculo, e estar bem com isso, é muito novo. Porque pode significar que eu posso conviver com minha velha vida sem mais tanto conflito (ou então que a minha nova vida estava uma tal merda, que voltar à antiga fica de repente doce).
Mas hoje estou otimista, então fico com a primeira opção.
Beijos,
J.