quarta-feira, abril 29, 2009

Não é exatamente um carro, é só um ka-


Mas é mais um feliz passo no meu aburguesamento.

domingo, abril 26, 2009

Aracaju

Então finalmente escrevendo telegraficamente o que tanto já foi dito.

A cidade é pequena e fácil, mais pequena e mais fácil que João Pessoa. O incrível é que, apesar disso, tem coisinhas pra fazer e até uma sessão de arte.

Moro no centro, mas num trecho "boa família e bons costumes". A vista é bonita, e uns dez quarteirões depois tem um mercado simpático pra tomar cerveja sábado de manhã (não que eu tenha ido). O tal mercado simpático tem uma torre que me parece o único possível marco digno para a cidade, mas as pessoas não parecem notar

Fora isso, a solidão de um apartamento de dois quartos branco e vazio, desses que fazem eco quando você diz "alô" no telefone, e te deixam com vergonha, porque parece que você tá atendendo no banheiro. Mas essa solidão eu tô enfrentando com coragem, leitura, MSN, trabalho e o meu querido amigo Randy Blue. Nada que seja novidade pra quem já vai com 28 anos de idade na cara e já viveu algumas coisas.

Vou ver se tiro umas fotos do trabalho amanhã pra ir atualizando o jornalzinho.


>> Olhaí a vista do apartamento e o tal "marco digno" num fim de tarde nublado.






sábado, abril 25, 2009

Qual é o seu lugar no mundo?


Esta poderia ser uma pergunta fixa de revista, variando todo mês o respondente. As respostas seriam várias, filosóficas (“meu lugar é aquele entre o sein e o sollen”) ou chãs (“meu lugar é meu sítio em Ituverava”).
Este mês eu respondo. Hoje, meu lugar no mundo é o pedaço de Nordeste de Natal a Ilhéus, esse pedaço de terra tão repisado, tão fudido, tão lindo. Pedaço de terra que se faz uno por seu passado de cana moendo gente vermelha preta branca.
Ficar estudando como isso aconteceu, como tudo isso se foi fazendo (e permanece se refazendo) paisagem; morar em João Pessoa, Recife, Salvador, e, agora, Aracaju; viajar de carro, ônibus, van, barco (especialmente van e barco) – tudo plantou meus pés no massapê.
Gilberto Freyre descreveu o que vejo de um jeito que me faz chorar. Em seu Nordeste, ele não quer tratar dos

“sertões de paisagens duras doendo nos olhos [...] esse Nordeste de figuras de homens e de bichos se alongando quase em figuras de El Greco”

Meus olhos e os dele vêem:

“o Nordeste de árvores gordas, de sombras profundas, de bois pachorrentos, de gente vagarosa e às vezes arredondada quase em sanchos-panças pelo mel de engenho [...] Um Nordeste onde nunca deixa de haver uma mancha de água: um avanço de mar, um rio, um riacho, o esverdeado de uma lagoa [...] Um Nordeste com a cal das casas de telha tirada das pedras do mar [...] O Nordeste da cana-de-açúcar. Das casas-grandes dos engenhos. Dos sobrados de azulejo. Dos mocambos de palha de coqueiro ou de coberta de capim-açu”

Nos meus olhos cresceram prédios sobre as casas-grandes; fazendas de camarão como esquadros nas curvas d'água; grades nos sobrados e também nos mocambos. Isso é o irônico de tudo: mesmo ainda visível, o Nordeste de Gilberto Freyre morreu.
Fico eu, morador de um nordeste vivo-morto e de outro nordeste morto-vivo, candidato a morador dos outros nordestes (os de dentro), vendo a foz do rio São Francisco.
Fica Penedo, no centro geométrico disso, com os tempos todos impressos em si, brilhando ao sol e fingindo que não é com ela.