quarta-feira, outubro 31, 2007

Uma nova canção para o Vespertine


Ele me toca em cordas desconhecidas e me arranca uma música inaudita.

Ele faz do longe, perto, do esquecido, vivo, do cinza, íris.

Ele é certeiro e exato: suas palavras me trespassam como se eu fosse uma Santa Teresa infinitamente bem-aventurada e ele fosse meu anjo.

Ele me aquieta e me infla nos tempos certos, sem esforço, como se tivesse nascido sabendo dos meus ritmos.

Ele é meu primeiro.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Meu caminho é de pedra/


como posso sonhar?
Então lembro que a resposta está na poesia da própria pedra.







>> Hoy no ha sido un buen día.

terça-feira, outubro 23, 2007

Vamos brincar de "Argan em Florença"?


As torres da matriz de Cachoeira brilham sob o sol. Cintilam tantos tons que me convencem serem coisa da natureza, e não do homem; sua sempre-nova-ida-e-vinda é a mesma do rio, em que se ancora sua cidade-navio... ou é o rio que se ancora na cidade?

As torres da matriz de Cachoeira brilham sob o sol e vão subindo tanto que temo firam as nuvens. Mas eis que em seus mil azuis e brancos, com elas apenas se confundem, se divertem – dançam.

As torres da matriz de Cachoeira são a consumação de um eterno flerte: são o Paraguaçu erguido para beijar o céu.



*Para Odete Dourado, que já recebeu uma cópia do texto, com fotos.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Espirais, espelhos e ecos em Brokeback Mountain

Eu tinha lá minhas razões práticas para assistir a Brokeback Mountain ontem, de novo. Amanhã é a festa à fantasia obrigatoriamente cinematográfica dos meninos, e tinha me dado um insight: "vou de Ennis del Mar". Não cheguei a pensar muito porque Ennis e não Jack – nem lembrava de que o chapéu branco de que poderia dispor é justamente o dele, nada. Mas por algum motivo quem me veio à cabeça foi Ennis. E então queria entrar no clima da festa, ver direito as roupas dele para a fantasia – as tais razões práticas.

Então eu e Gustavo inauguramos o DVD dele, e de repente muitas coisas começaram a fazer sentido. Entendi exatamente porque meu subconsciente me colocou de Ennis e não Jack. Me senti de novo na pele daquele cara que estragou, estragou, estragou a própria vida, sem nenhum amor por ela, ou força, apenas se deixando levar por falsas impossibilidades. Especialmente, me senti de novo na pele daquele cara que chega e diz "não vou poder estar com você. tenho obrigações de trabalho e não posso", mesmo sabendo que com isso vai causar mágoa recíproca.

Mas não era de mim, e sim do filme, que eu queria falar, pra notar como a narração usa de um mesmo artifício, repetidas vezes: os elementos passados que voltam, diferentes. Procurando imagens pra descrever o artifício, lembro do tempo helicoidal, do qual já falei aqui (que volta ao mesmo ponto, mas em outro ponto). Ou de um eco. Ou de um espelho: o objeto e seu outro, ambos iguais, mas invertidos. E ou espiral, ou eco, ou espelho.... é disso que quero tratar. É disso que o diretor muito se serve, quando o filme vai chegando ao final.

Na última vez em que se encontram, Ennis e Jack têm um diálogo duro. Depois disso, não mais se falam. Jack acaba mesmo encontrando outro homem com quem tenta fazer uma nova vida (sabemos disso por seus pais, depois dele morto). Talvez naquele momento da despedida, já fosse claro pra ele a gravidade, o definitivo do momento. E talvez isto explique a forma como a cena é montada: Jack olha um Ennis áspero partir, que ninguém sabe quando volta. Flashback: Jack, no já longínquo verão em Brokeback, vendo um outro Ennis, amável e sorridente, partir e dizer que volta logo. Corta de volta para Jack, e a caminhonete virando a curva. Duas despedidas, radicalmente diferentes, uma do lado da outra, uma se mirando na outra, uma acentuando a intensidade da outra.

Próxima cena: Aparece o correio da cidadezinha, e Ennis recebe um postal, do mesmo jeito que aparecera o correio logo que Ennis recebeu o primeiro postal de Jack, aquele que anunciava a primeira "pescaria" dos dois. Mas agora o postal anuncia a morte.

Próxima cena: Ennis liga para e esposa de Jack, que lhe relata o ocorrido. E vem à mente de Ennis uma cena de espancamento e morte. Uma outra cena de espancamento e morte para se juntar à que ele tinha guardade desde a infância. Mas agora de seu amado.

Próxima cena: Ennis na casa dos pais de Jack. Depois de alguma conversa, entra no quarto, revê as duas camisas com que eles se despediram naquele primeiro verão. O passado voltando de novo. E o que ele faz? Leva sua própria camisa, como Jack levara, e leva também a do outro.

Pulando a cena da filha, vem a última: Ennis abre seu guarda-roupa e lá estão as duas camisas, mas agora na ordem inversa: se Jack colocara a sua camisa por dentro da de Ennis, ficando protegido e guardado por ele, agora Ennis coloca a sua camisa por dentro da de Jack; ele que que fica guardado e protegido.

(E isso merece mais um comentário: só agora, depois de anos e de seu amado morto, Ennis finalmente aceita ser o protegido, o frágil, o carente, o que pede... Não adianta. Não adianta mais o "I swear, Jack". Mas finalmente tendo seu personagem principal transformado, o filme pode acabar. E acaba.)

Quanto aos espelhos e espirais: das últimas seis cenas do filme, cinco são uma uma volta de elementos já levantados, são ecos do que já foi mostrado. Entendo que isso é uma forma premeditada de "fechar" a narrativa. Não só botar um ponto final, mas retomar elementos importantes, e juntar todos esses ecos fúnebres de um amor que se encerra de uma vez. Como se ele juntasse todas as pontas e amarrasse. Ou recapitulasse tudo e encerrasse. Como certas peças musicais que em sua coda saem retomando todos os temas. Ou como o final de "Cem anos de solidão", em que a história aparece dentro da história, sendo recontada até o último segundo (e se fecha sobre si própria). Ou o clipe de Bachelorette em que a história re-re-re-contada também entra em colapso....

... Ou Brokeback Mountain, em que depois de recordar toda a história já há muito passada, a última cena recorda a antepenúltima – e assim também não pode ir adiante, se fecha – e termina.

segunda-feira, outubro 08, 2007

A stain, a sparkle

Acordo do pesadelo pra descobrir que ele era real: os destroços do mundo continuam ao meu redor.

Aí a música ao longe vem chegando vizinha. Os cacos vão sendo animados por ela. Um a um, grandes e pequenos, pulsando luz própria ao ritmo do som, como se eu fosse aquele aprendiz de feiticeiro, mas num dia de sol. E voam pedaços de coisas, que formam um turbilhão grandioso, que sobe ao meu redor, que de olhos fechados inspiro e inflo de som e movimento.

Logo se dispersam os tantos cacos novamente virados algo – não tenho meu mundo de volta. Mas a música deu um não-sonhado brilho às coisas. E, mais que tudo, lembrei que tenho direito a isso. Sempre.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Virei palestrante


Foi hoje de manhã, o cartaz aí prova.

Foi super-legal e ainda ganhei uma graninha que dá pra comprar uma garrafa de whisky.

Agora, nada mais de comunicações em congressos, só conferências!

:D