domingo, abril 29, 2007
sábado, abril 28, 2007
Do yourself a favor, dear, and never keep a journal
Em algum lugar do passado (no post pós-carnaval) eu disse que uma gota d'água resumia o oceano.
Notes on a Scandal é um filme do caralho, e não quero me perder aqui falando de densidade humana, fragilidade humana e todas as humanidades mais. Me interessa apenas uma cena, uma cena curta, e que nem sequer diálogos tem.
Perto do fim do filme, Sheba está abrigada na casa de Barbara. Está usando o vaso sanitário, e então close: ela pisa numa estrelinha dourada, que prega em seu pé, sem que ela perceba. Nós, espectadores, já sabemos que esta estrelinha é uma daquelas que Barbara põe em seu diário, em dias especiais. E quando Sheba pisa na estrela, não sei se pelo close, pela música ou o que seja, entendemos que algo de importante está ali. Alguns passos adiante, Sheba nota a estrelinha em seu pé, e então nota uma folha de papel no lixo, e lendo esta folha de papel, descobre um bocado de coisas que não deveria saber -- o que encaminha o filme para o desfecho.
A tese aqui é que a cena é o filme inteiro. Senão, vejamos: Barbara é seca e dura: "a quem eu vou contar os meus segredos?" Ela guarda todos os seus sentimentos verdadeiros, tudo o que tem de quase macio, quase bom e quase feliz, para o seu diário. São as páginas do diário – com suas estrelinhas – que sabem e veêm todo o seu amor por Sheba – a qual não vê ou não quer ver o que está acontecendo. Portanto – e é aqui onde eu queria chegar – nada melhor do que as estrelinhas para simbolizar este sentimento secreto de Barbara.
Barbara entra pra valer na vida de Sheba, sem que ela entenda nada, quando esta se vê fragilizada no que tem de mais baixo, instintivo e animal: seu caso com o aluno. Assim como a estrelinha – Barbara e seu sentimento – cola em seu pé quando esta está em seu momento mais baixo, instintivo e animal: cagando.
Finalmente, é quando percebe a estrelinha que Sheba encontra o diário: quando percebe o símbolo do sentimento secreto, encontra a prova-relato do sentimento secreto. Daí em diante, um grande cataclisma.
Em algum lugar do passado (no post pós-carnaval) eu disse que uma gota d'água resumia o oceano. Eu estava certo.
domingo, abril 22, 2007
sexta-feira, abril 20, 2007
Satie. Debussy. Chopin. Villa-Lobos.
Não vou dizer nada, nem descrever programa, nem colocar foto. Nem texto nem figura. Melhor parar com tanta banalização de tudo, tanto registro, tanta reprodutibilidade técnica. Melhor pensar no concerto desta quinta como um momento único, que acabou.
Quando não havia gravuras, fotos, discos, rádio, o domingo era um dia mágico em que se ia à igreja e lá havia um mundo completamente surpreendente: um mundo com música e pinturas.
Desconsiderando qualquer referência rasteira a Benjamin, é esse sentimento que eu quero hoje: o do infinito valor da arte quando é rara e irreprodutível; quando não perdeu sua aura.
Quando não havia gravuras, fotos, discos, rádio, o domingo era um dia mágico em que se ia à igreja e lá havia um mundo completamente surpreendente: um mundo com música e pinturas.
Desconsiderando qualquer referência rasteira a Benjamin, é esse sentimento que eu quero hoje: o do infinito valor da arte quando é rara e irreprodutível; quando não perdeu sua aura.
quinta-feira, abril 19, 2007
terça-feira, abril 17, 2007
domingo, abril 15, 2007
Do tempo
Meu primeiro Abril pro Rock foi há 8 anos, quando eu acabara de me mudar para Recife. Fui com Laura, e lembro de ter encontrado, por lá, Diego, colega meu de Direito (sim, houve Direito) que é importante neste post.
Eu e ele acabamos ficando amigos, e um dia, falando de como era legal a letra do Balada do Louco, com todo o seu freak pride de "se eles têm três carros, eu posso voar", combinamos de fazer uma camiseta com essa música. Daí o desenho, que virou camiseta mesmo. Ano vai, ano vem, Rock in Rio juntos no meio, perdemos o contato, mas era batata: toda vez que eu ia a qualquer coisa 'alterna' em Recife – inclusive Abril pro Rock – lá estava ele lá, e era sempre bom encontrar, contar das novidades, tentar marcar de fazer algo juntos – e quase nunca fazer mesmo.
Mas deixemos de prólogos: sexta-feira foi mais um Abril pro Rock, e de novo eu lá, de novo com Laura (e Cris). Nós olhando o público – que tinha mais ou menos nossa idade de há 8 anos – e nos achando velhos. Tanto tempo, tanta coisa mudou, inclusive nós mesmos, mas ainda continuávamos lá, no Abril.
O grande grande momento da noite foi mesmo a Balada do Louco, que pra mim continua fazendo o mesmo sentido de sempre. E quando ela tocou, lembrei da camiseta, de Recife, de Diego, e me toquei que desta vez ele não estava lá... o tempo passa mesmo.
sábado, abril 14, 2007
quinta-feira, abril 12, 2007
Três mulheres e um chocolate
Não que isso me sirva muito, e, no reino das avelãs, há quem prefira Nutella, mas...
Descobri uma ótima estratégia para tirar sorrisos encantados de mulheres: o recurso ao Ferrero Rocher. Tendo ganhado quase por acaso uma caixa deles (e sem ter como colocar pra dentro tanto chocolate em tempos de Páscoa, quando ovos e quetais abundam) os saí distribuindo com prodigalidade, digamos, calculada.
Entenda-se: não se trata aqui de presentes (pois nisto suponho que as mulheres continuam preferindo diamantes), mas de inesperados e gratuitos mimos, que (neste momento, surpreendo-me) as tiram por uns segundos da existência sensaborona e as colocam como (sentimento atávico re-sentido desde sempre) deusas-pequenas, especiais entre as outras-iguais.
O mesmo sorriso repetiu-se, sem exceções, como para me confirmar a validade do expediente, com três nomes: Lysianne, Isabel e Berthilde. Se a primeira, dias depois do fato, continuava a me tratar com favor especial, e a segunda se iluminou à vista do pomo-de-ouro-bonsai (e nisto talvez resida, no inconsciente coletivo, o encanto do brinquedo), que nem a ela era dirigido, a terceira me perdoou um pequeno atraso e um pequeno mal-entendido – com indisfarçada alegria.
O Ferrero Rocher é o buquê de rosas embalado em papel laminado.
quarta-feira, abril 11, 2007
So Happy Together (aguardem dia 28 e entenderão)
Ensaio do Star, ontem à noite: Flaviano, Thiago, Rieg, Nildo, Jorge – os meninos são incríveis. Não só por letra e música, mas especialmente pela soma de cada um dos instrumentos, de cada um dos timbres, de toda a instigação. Sem cachaça, sem lantejoulas e sem dançar, o SOM é muito bom.
Bem, lantejoulas até houve um pouco, na capa do álbum de letras, inclusive uma que eu trouxe pra casa.
E pizza Hut com Gustavo & o Urbanismo, de brinde.
sábado, abril 07, 2007
quarta-feira, abril 04, 2007
Rua Direita, Rua Duque de Caxias
Desde mais ou menos 1600, neste mesmo terreno, muitas igrejas se sobrepõem umas às outras, sem deixar de ser a mesma: nunca uma delas desaparece por completo, e, ao mesmo tempo, nunca a nova que surge é nova inteira.
O jogo é tão engenhoso que não acaba: o bisneto continua a brincadeira que já fora de seu pai, seu avô, seu bisavô. E agora, nós, brincando de novo, per omnia saecula saeculorum. Amen.
Faltam poucos meses para a novelhanova Igreja da Misericórdia ser inaugurada.
terça-feira, abril 03, 2007
Enceradeira
Eu juro que eu não pretendia postar mais nada de Salvador! Mas hoje fui assistir ao mais novo filme agenciado pela ex de Caetano (sem comentários) e as coisas (se) sucederam de forma inescapável.
Primeiro, nos ouvidos, o lindo falar baiano dos baianos, e não de cariorcas que fizeram uma oficina de sotaque de três dias. Mais que isso, tudo se passa justo no pedaço do Pelourinho cujas casas eu avaliei, uma por uma, pra mais um desses trabalhos não-remunerados que só gente como eu toparia. Pra completar, Wagner Moura falando "minha porra" como se fosse meu amigão André Luiz. Pois só por causa disso, vai rolar, de contrabando, foto dele mesmo! E aí fica bom porque é algo meio Salvador, meio qualquer-lugar-nenhum.