Ligando as pontas
Há meses arrumo essa casa, e o processo continua. O mais legal é reencontrar o passado: objetos, papéis, afetos – preciosidades. Coisas bestas, guardadas quase com vergonha, agora se confirmam grandes, e me dizem: "foi esperto no cuidado, hein, amigo?".
Aí me lembro da conversa-padrão-número-um que uso pra explicar o valor do patrimônio: "Se você não lembrasse seu nome, não soubesse onde estudou, não reconhecesse sua família, você seria você?". Pois bem: cada carta escrita por Mayra, cada origami dado por Jarbas, cada cristal roubado do hotel de Viena (só pra ficar nas coisas menos óbvias) me faz mais eu. O mais incrível: é confortável.
Aí em cima, mesmo, vai um carvão sobre cartolina que fiz no Fenart-2000. Deixei-o 9 anos guardado, enrolado num casulo, respirando baixinho – e agora preparo o reencontro, ele de asas abertas sobre a minha cama.