A comunicação proposta expõe os registros fotográficos resultantes da performance Pagan Poetry, e discute, a partir daí, uma possibilidade de enfrentamento do progressivo esvaziamento de sentido do espaço e do viver contemporâneos.
A seqüência de oito imagens mostra o artista em uma seqüência de lugares despidos de significado específico (os não-lugares mais clássicos), como ônibus, aeroportos, aviões e banheiros públicos. No percurso, ele reproduz, caligraficamente, em seu próprio corpo, fragmentos de textos de amor.
Assim, gera-se um contraponto entre a seqüência de espaços desconexos (uma cartografia do vazio ou uma não-cartografia) e a escrita sobre o próprio corpo, plena de reminiscências pessoais (uma cartografia do desejo ou uma corpografia). Juntos à pele escrita, objetos como poltronas, bilhetes de bagagem e mesas ganham novo significado, e os próprios espaços genéricos ganham um rumo.
A intenção de criar rumo-sentido em meio à sua ausência se evidencia pelo fato de que as imagens começam num espaço doméstico e terminam numa escola, lugares significativos e pessoais que enquadram os não-lugares atravessados. O percurso chega a um destino, encontra o lugar desejado, leva ao desejo – estaria o artista indo ao encontro de seu amante?
A partir daí, podemos entender o rumo encontrado como possibilidade de enfrentamento de um mundo em que os espaços são cada vez mais despidos de um sentido próprio e físico. A exposição tão próxima, e mesmo confundida, da carne e do traço, do desejo e da criação (citação óbvia à cantora islandesa Björk e ao cineasta inglês Peter Greenaway) parece colocar uma solução que passa pela fisicidade pura do próprio corpo, do objeto artístico – e do corpo feito objeto artístico.