sexta-feira, junho 30, 2006

Mais um post arquitetônico



Espero que ninguém pesquise esse arquivo todo antes de eu poder chegar nele... Quantas coisas, tempos, pessoas e vidas nestes projetos de casinhas, pedidos de reformas, solicitações de autorizações pra abir uma janela, desenhos de palacetes. Eu quero poder ter meus alunos de PIBIC pra sistematizar tudo isso agora!!

Enquanto agora não vem, casinha romântica da década de 1950. Tem dezenas de projetos como esses, de casas dessas, de famílias burguesas, geralmente na rua João da Mata. Engraçado é que enquanto a arquitetura moderna vai entrando, essas casinhas vão ficando mais e mais românticas dos anos 40 pros 50. E sempre tem o nome do dono em cima do desenho da fachada. As folhas de papel são enormes, mas o desenhista sempre escolhe colocar, em letras enfeitadas e garrafais, o nome do dono em cima do desenho mais atraente e inteligível, como se dissesse: "Dr. Fulano, este é o seu palácio!"

A propósito de famílias burguesas e seus belos palácios sempre apodrecidos por dentro, agradeço ao meu amigo Kyldare pelos dois ou três episódios de Desperate Housewives que vimos juntos, e que mudaram meu conceito sobre "enlatados americanos" (André, com Friends, fez a primeira parte da tarefa, é preciso reconhecer...)

quarta-feira, junho 28, 2006

Tum-tum-tum


Diz minha prima Isabella (irmã do colunista social Celino Neto) que quando bate o zabumba em Campina Grande, todos os nativos vêm em revoada – incluindo ela, do Rio Grande do Sul, eu de Salvador e assim por diante.
Mas o fato é que foi mais uma “voice within me repeating you-you-you” que me levou de volta à pequenina.
Correndo, tentando rever o povo, matar saudades, tapar buracos... Nada de descanso.

Primeira etapa, João Pessoa: ficar com André, painho e mainha, jantar com Ana (e Luana, minha sobrinha na barriga dela), ver o resto do pessoal rapidamente, terminar o artigo da ANPUH segunda às quatro da manhã e viajar correndo

Segunda etapa, Campina: ficar com as tias, rever o resto da família no aniversário de Mainha, dar um grande abraço nela pela data, pesquisar muito no Arquivo Municipal, reencontrar Simone (aquela que NÃO escreve neste blog) e Júnior, Hugo e Flávia

Terceira etapa: de volta a JP, terminando as pendências: rever Nelci, cuidar do fogão novo de André, ver o povo melhor e acompanhar o Gordo Ronaldo contra o Japão em meu primeiro jogo do Brasil nessa copa, até voltar pra Recife e pegar o avião.

E chegar de volta à Bahia, com o belo e artístico rosto do defunto Luís Eduardo Magalhães olhando pra mim num mosaico do aeroporto! Isto também NÃO É arte pública em Salvador...

domingo, junho 18, 2006

Meu vizinho superstar


Este não é mais uma post “arte pública em Salvador”, mas bem que poderia ser.

A figura aí em cima, com seu chapéu de palha e seu balde, é nosso vizinho mais sonoro. Ele guarda carros, toma banho e lava roupas em frente à nossa casa... e canta. Muito e alto, todos os clássicos do axé, conhecidos e desconhecidos, desde “Elegibô” até “Nosso amor já é”, acompanhados das saudações ao público “Tá bonito demais gente!” e “Comigo!”. Às vezes, ele dança também, de forma meio furtiva, em frente aos vidros espelhados dos carros. A impressão é que ele está esperando ser descoberto por algum executivo da Warner.

Ele tem um cortejo de quatro cachorros que o acompanham (até semana passada eram só três): um preto, um branco, um marrom (com coleira e penduricalho) e uma malhada (chamada Princesa; ele sempre grita por ela). Não sei o nome dele, nem de que ele vive exatamente ou onde dorme. Mas nunca esqueço de sua existência, especialmente quando quero estudar num sábado à tarde ou domingo de manhã e sou subitamente interrompido por Bell Marques em sua versão da Rua Doutor João Pondé.

Ontem de manhã, pra completar de encher a bola do rapaz, apareceu a televisão aqui na porta de casa, pra entrevistar e filmar o moço. Avaliem onde essa egotrip vai parar agora...

segunda-feira, junho 12, 2006

Dia dos namorados


Dia dos namorados, e em Salvador caindo o céu.

Não somente chove sem parar faz meses (uma mistura de Belém com Londres), mas também agora mesmo estou no laboratório da faculdade e eles estão ajeitando o teto, então caem pedaços de reboco, sujeira e poeira na minha cabeça. Daqui a pouco caem uma viga e um operário...

Dia dos namorados é um dos mais tristes do ano; fora quem namora e está perto, pra todo o resto é um frio só. Algo como uma tristeza de Natal, só que temática. Uns comprando presentes pra si próprios, outros encostados na parede por falta de quem em se encostar, e uns engolindo em seco a saudade saudade saudade.

O céu continua cinza até quinta-feira.

Praia com mineiros

Carol é mineira e tem amigos mineiros na Bahia, que por sua vez trazem mais amigos mineiros pra passar o fim de semana. Nádia é goiana, mas é quase mineira, até “uai” fala. Fomos para a praia eu, Carol, as amigas dela e os tios de Nádia. E foi muito engraçado, porque eu, no meio de todo esse povo sem mar, era a referência de conhecedor da água salgada, o nordestino corajoso que enfrentava tudo quase sem tomar caldo (tomei um e meio, na verdade). Eles lá, preocupados, “olha lá, juliano, o mar tá bravo” e eu todo pimpão pulando e furando as ondas.

Ao mesmo tempo, um reencontro com a infância de mar revolto, à tarde, com os primos, em Cabo Branco, no Bessa, em Jacumã e Coqueirinho.

sábado, junho 10, 2006

Arte pública em Salvador 3

Ponto alto e baixíssimo, simultaneamente, do grafite em Salvador. O cara (Denis Sena, claramente assinado), faz um desenho gostoso, um traço fluido, sintético e elegante. De novo, nada de crise e provocação, mas uma conciliação de ilustrador de Revista Veja. Só que aí vem a pior parte: ele é contratado da prefeitura para embelezar muros feios. Eles têm um projeto, aqui, de cooptar e tornar assalariados os grafiteiro, que assim “se incorporam à sociedade” e deixam de ser uma “ameaça”. E, o pior de tudo, esse muro feio aí da figura é a nova sede da Perini, uma mistura de Padaria Bonfim, De Passagem e Paço dos Leões, o paraíso da pequena buguesia local. O que significa que temos um ex-grafiteiro, pago pela prefeitura, para fazer propaganda dessa empresa, e, ainda por cima, o desenho sai interessante.

domingo, junho 04, 2006

Arte pública em Salvador 2


É Salvador, mas aqui também faz chuva e vento. Ontem à noite, fez até frio. Bela noite de sábado: em casa, lendo textos para o mestrado. E o que é mais incrível: eu estava absolutamente tranqüilo com isso. Provavelmente, por causa do maravilhoso Porto da Barra, de que eu já falei tanto. Numa nesguinha de sol, por volta da 1 da tarde, e de novo de forma inesperada, lá estava eu, sentado, tomando cerveja e banho de mar. Foi suficiente pra um dia repleto de satisfação.

Segundo alumbramento do sábado: pinha: precisei morar em Salvador pra comer pela primera vez essa fruta tão prosaica e comum, mas digo: é tão bom quanto pitanga. Toda a conversa do gosto tridimensional, diferentes camadas, matizes e tons de sabor sobrepostos – uma pinha é tudo isso.

Continuando o raciocínio do último e longíquo post, uma imagem que não é grafite. O suporte é o mesmo, a urbanidade é a mesma, até o fato de que a cidade se torna melhor é o mesmo. Neste exemplo, o tema é inclusive inócuo. Mas eu adoro esses mosaicos que se espalham nos muros de pedra daqui por dois motivos que levam a um mesmo fim. Primeiro, o muro continua lá, visível com sua pedra irregular. O mosaico se sobrepõe mas não cobre (não nega figurativamente) a aspereza que é do muro e é também da cidade. Segundo, se mosaico em si é fragmentado, quando ele se coloca apenas como linha, deixando o fundo livre, sua fragmentação fica exacerbada. Essa precariedade reforça o que eu entendo como uma desejável estética precária da cidade precária. Expressiva, relevante, mas ao mesmo tempo incômoda.