quarta-feira, abril 26, 2006

Os dias permancem os mesmos

Os baianos continuam chatos, simpáticos e espertos
Os alunos continuam lutando pra adiar trabalhos
Os apartamentos pra alugar continuam caros
O almoço da universidade continua bom e barato
(tem milho verde cozido nas ruas!)
Os dias continuam quentes
O ar continua úmido
A chuva continua caindo
(tem guarda-chuvas transparentes e coloridos nas ruas!)
Carol e Luís Fernando continuam bons amigos
Luciana continua completamente instável
(Eu estou indo pra João Pessoa amanhã de novo!)

domingo, abril 23, 2006

O caos!


Tem um desenho de Pernalonga que eu sempre cito, porque ele expressa muito bem um sentimento que de vez eu tenho. Ele é um maestro, vai regendo um concerto, regendo, regendo, e o teatro vai caindo, caindo, caindo, e quando termina a última nota, termina de cair o último pedaço sobre ele. Pelo menos, da forma como eu lembro. Então, sendo reclamão de novo, meu domingo foi mais ou menos assim: não bastassem as dores já de rotina, elas pioraram porque não tomei meu remédio, estou agora com infecção intestinal, o banheiro entupiu (tive de enxugá-lo inteiro depois do meu banho), briguei de novo com Luciana, e pra completar neste presente momento está havendo um show de Ara Ketu, ao ar livre, na minha esquina. Ahhhhh! Estão nascendo cogumelos nos rodapés do apartamento, como se ele fosse um morto.

no meio do nevoeiro


Eu estou confuso da cabeça. Não que eu pudesse estar confuso dos pés (até que podia, na verdade), mas o caso é que tem muitas pequenas coisas nebulosas, ou em loop, aqui dentro. São idéias que eu não sei se já escrevi, ou que ficaram me rondando tanto tempo antes de virar post que acabaram parecendo reais; tarefas que eu não sei se cumpri ou se ainda estou devendo; e até fotos que eu vejo pela primeira vez mas parecem já vistas.

Não sei se eu consegui superar a dimensão tempo e agora estou num absoluto onde futuro e passado se misturam... ou se é overdose de diclofenaco... ou se é porque esse fim de semana foi repeteco do de quinze dias atrás. O caso é que se este texto causar um dèja-vu, não é uma falha na Matrix, mas minha mesmo (pelo menos a citação da Matrix eu tenho certeza que é repetição do post sobre V de Vingança).

Sexta foi feriado, com céu nublado e chuva. Fui comer moqueca do lado de dentro da Baía com Luís Macarrão, Neusa e umas amigas deles. Rodapés: Luís Macarrão é meu colega de mestrado, paulista-engenheiro-advogado-administrador muito gente boa, Neusa é a esposa dele (um doce) e as amigas deles eu não conhecia, mas basta dizer que duas delas são professoras sorridentes de gastronomia. Já a Baía é o acidente geográfico que deu nome a este estado da federação, e Salvador fica mesmo em uma de suas entradas. O lado de fora da Baía é a nova Salvador da classe média alta (algo como Cabo Branco a Intermares), enquanto o lado de dentro é a velha Salvador com uma mistureba de gentes (algo como Torre e Jaguaribe, só que com vista prum litoral todo recortado, cheio de enseadas, barquinhos e pescadores). O lado de dentro é mais bonito, mais complexo e mais interessante.

Nossa moqueca da vez foi num lugar chamado Boca de Galinha (o nome NÃO está na porta), à beira do mar e da linha do trem, num bairro chamado Plataforma, no meio de uma quase-favela chamada São João, com vista pruma das enseadas de que falei. A sobremesa foi no outro lado da enseada: o tradicional sorvete do tradicional bairro da Ribeira (cheio de casas, casinhas e casonas ecléticas). O mais incrível, hehehe, é que da Ribeira também se vê a Plataforma (vide foto)! O café foi no bairro de Santo Antonio, na casa de um amigo das amigas – mais um daqueles gringos arquitetos que vieram, ficaram, compraram uma casinha no centro histórico e a transformaram numa pequena jóia.

A propósito, e antes que alguém diga, esse blog tá parecendo um guia de Salvador em capítulos.

quarta-feira, abril 19, 2006

Atropelamento

Cheguei em Salvador segunda-feira 12 e meia; 1 e meia estava em casa deixando a bagagem, e duas e meia estava chegando atrasado na aula. Depois de resolver algumas coisas, fui pegar o ônibus pra voltar pra casa.

Ia indo atravessar a rua, pensando no mundo, e esqueci de olhar pro lado esquerdo. Vinha vindo alguma coisa e me atropelou meio de lado. Caí no chão com os cotovelos e joelhos, mas não perdi a consciência nem quebrei o pescoço. Fiquei lá sentado no meio-fio tentando entender o que estava acontecendo. Por uma grande ironia, estava usando minha camisa toda pingada de vermelho, igual a sangue, e todo mundo achou que eu tinha me fodido mesmo. Em poucos minutos tinha um bocado de gente olhando, uns tentando ajudar (pegaram meu telefone e o de alguém da cidade, para chamar). Apareceu a polícia, que pegou os dados do atopelador (que tinha fugido mas acabou voltando) e logo chegou a ambulância do SAMU.

Me colocaram com aquela coleira todo amarrado na maca. Mas dentro da ambulância é que foi pior. Leila e Márcio, os responsáveis, não eram médicos, e dependiam da autorização por telefone de uma doutora não-sei-quem para me mandar pra qualquer lugar. Depois de uns 15 minutos esperando com o carro parado, a tal doutora me mandou pra SOMED. Carro solavancando, maca solavancando, acabei chegando na porta desse lugar e fiquei esperando de novo. Esperei tanto que deu tempo de chegar um cobrador de ônibus chamado Neilson, que tinha passado mal no meio do serviço, e que Leila colocou para dentro do carro, sem conseguir resolver meu problema nem o dele. Esperei ainda mais até que ele desistiu, foi embora de táxi e eu continuava deitado. Quando finalmente conseguiram me colocar dentro dessa SOMED, só deu pra eu ouvir o médico ortopedista dizendo que não ia me antender porque atropelamento era politrauma e o ortopedista deveria ser o último a atender, depois do cirurgão e não sei mais quem.

Mais tempo parado na ambulância esperando. Deu tempo de eu pedir o celular de Leila emprestado. A essa altura, já tinha dado nome e telefone a tanta gente que tive medo que a notícia já tivesse chegado em João Pessoa e a família estivesse desesperada sem notícias. Mas falei com painho, ele não sabia de nada, então deixei quieto, sem ele saber. Decidiram me levar pra um tal de Hospital Evangélico (mais ironia!), onde finalmente fui atendido. De novo minha camisa suja de "sangue" assustando as pessoas. Mas quando finalmente fizeram o raio X (durante o qual eu ia desmaiando de hipoglicemia, pois ainda não tinha almoçado e era de noite) viram que aparentemente eu não tinha nada.

Isso foi o tempo de Chico chegar. Eu tinha dado o telefone dele e de Lucinha pra o tal cara que me perguntou algum contato em Salvador, e ele me acompanhou a partir daí, o que ajudou muito. Meia hora de Profenid na veia depois, o médico (João qualquer coisa) decidiu que eu não tinha nada mesmo, enfaixou meu braço junto com o meu ombro, me passou Beserol de 8 em 8 horas e me mandou pra casa, que no caso era a casa de Chico e Lucinha. E aí fui tratado com os mimos de uma casa com filhos e cachorro (justamente aquela casa do começo do blog). Só então avisei a painho (eram 11 da noite) e pedi pra ele deixar pra avisar a mainha no outro dia de manhã.

Terça feira inteira de molho, vendo o que ia fazer. Muita muita dor e dificuldade pra levantar, sentar, deitar. Decidi esperar pra voltar pros médicos no dia seguinte porque Ana tinha um amigo médico aqui em Salvador (Dr. Fred) que me ligou e ficou de me atender na quarta, fazer raio-X e ultrassom no ombro e me encaminhar prum ortopedista da confiança dele.

Dito e feito: quarta de manhã inteira esperando por Dr. Fred, que no final acabou sendo ótimo. Mandou me desenfaixar e confirmou que eu não tinha nada. Me avisou que eu NÃO devia tomar Arcoxia caso o outro médico passasse, porque tem muita gente morrendo do coração com isso.

Finalmente, o último médico, Dr. Marcos Matos, reconfirmou que eu não tinha nada, me deu uma injeção na bunda que eu nem senti, e me passou ... ARCOXIA! terceiro momento irônico. Não tive coragem de dar o recado de Dr. Fred a ele, mandei mainha perguntar a Monca e Tio Jocélio o que fazer quanto a essa medicação, peguei outro táxi e voltei pro meu querido quarto no apartamento de Luciana.

Onde me esperava, pra minha grata surpresa, um pacote com textos que André me mandou.

sábado, abril 15, 2006

Caminhando e Cantando

Sabiá era mesmo mais bonita, mais séria e mais música. Mas Pra não dizer que não falei das flores tinha mais a dizer, pra mais gente, naquela situação política específica.

É da natureza da arte (mas não de sua essência) poder ter leituras e reverberações
políticas importantes desvinculadas de seu valor intrinsecamente artístico, nem sempre relevante. É o caso, por exemplo, do nosso querido V de Vingança, que assisti com Dé, Rafa, Bia Cê e o primo dela no Box, em JAMPA, essa semana.

(Cristhiano e Gregório odiariam ler isto, mas) O filme tem certos vícios de graphic novel, como as cenas de batismo dos heróis com fogo e água, e, no geral, não é grande cinema. Mas, ao mesmo tempo, coloca em jogo uma questão especialmente cara a mim, que é o fato de que, sob diversos aspectos, a civilização ocidental está caminahando para regimes totalitários fundamentalistas cristãos de direita, com toda a intolerância e violência que isso necessariamente acarreta. Estão lá todos os elementos, vistos retrospectivamente de um futuro indefinido, que podem nos levar definitivamente para semelhante situação.

E qual é a lindeza do filme, então? Seu altíssimo grau de subversão , que começa com ele sendo gestado em pleno coração da indústria cinematográfica da Amérdica, abrindo então uma falha no sistema (ou na Matrix, em reverência a seus produtores); que continua ao colocar (novamente, e sem novidades, é preciso reconhecer) os riscos da intolerância para esses adolescentes comedores de pipoca que se amontoam nos shoppings; e termina, da forma mais linda e corajosa, com o Parlamente britânico explodindo numa festa de fogos de artifício, ao som da gloriosa Abertura 1812, pelas mãos dos mocinhos, que são terroristas! Pra mim já é a cena do ano, com direito a aplausos e tudo.

domingo, abril 09, 2006

Saulinho


Desde conversar sobre Marisa Monte e Paralamas, à noite, no CCAA, depois da aula, esse rapaz tem sido meu amigão. Desde então sempre, mesmo com o ouriço, as paranóias, a busca, e todas as confusões. Mesmo com a distância, com Arquitetura e com Medicina.

Mesmo tão intensamente Saulo, ele nunca me convenceu a deixar um modo cinza de ser. Mas a cada pior momento, e eles foram muitos, sempre hasteou alto seu jeito luminoso, fazendo crescer e crescer uma admiração sincera e forte.

Chegou o tempo, rapaz. Eram anos, meses, e é dia. Você merece demais, talvez mais que todos nós. Parabéns. A vida agora continua, ainda mais luminosa.

Expectativa 2006


Não, não é a mostra da Fundação, mas certamente é minha maior expectativa neste ano, até agora. Volto pra João Pessoa depois de algum tempo fora – apenas seis semanas. No entanto, tanto aconteceu! De repente, o eterno devir deixa de ser filosófico e fica empírico.

Nada ficou o no lugar, e a vontade é colar todas essas xícaras. Listas de afazeres, de coisas e levar, coisas a trazer, tudo pronto. Mas as miuçalhas não vão me impedir de amar.

Hoje é dia de fazer as malas, e me preparar para um dia de espera. O fato de a BRA ter transferido minha passagem para 1 da madrugada, chegando em João Pessoa às 4 da manhã da terça, não ajuda nada. Nem com vôo regular essa porra de empresa presta.

Agora, uma coisa não posso negar: meu sorriso no rosto, antecipando todos os sorrisos nos rostos, e especialmente um deles.

sexta-feira, abril 07, 2006

Salvador sorri



Ontem começou uma disciplina ótima: a gente vai estudar o pensamento urbanístico do século XX em sua grande diversidade, e deu pra sentir bastante firmeza nos professores. Na estrutura do programa, das aulas, dos seminários etc. Foi novamente dia de cerveja, duplicada dessa vez: primeiro com os colegas (o pessoal da aula legal), e depois no aniversário de Lucinha, com alguns professores lá do curso. Quem estava lá no restaurante era a louca do padre Pinto, que ocupa o noticiário local diariamente com suas estripulias... Não sei se tem saído em rede nacional.

Mas a parte realmente maravilhosa foi começar a assinar a papelada da bolsa, que deve estar saindo muito logo, em maio (espero!) ou junho. Com ela vai dar pra respirar um pouco; comer, beber, morar com menos culpa em relação ao dinheiro que painho, mainha e eu mesmo estamos gastando nessa aventura.

quarta-feira, abril 05, 2006

Estudante come...


Bolinho de estudante! Mais uma variação da eterna "massa macia sem muito gosto, frita, polvilhada com açúcar e canela, melhor servida quente", igual a rabanada, pretzel, bolinho de chuva e quetais, e tão bom quanto eles. No caso, a base é de goma de tapioca. As baianas vendem um que dá pra duas pessoas por um real... acho que daí o nome do bolinho.

Quando eu penso que nesses tabuleiros ainda tem umas outras vinte coisas que eu não experimentei, dá um frio na barriga.

Os últimos dias têm sido corridos, daí a rarefação dos posts. As aulas estão apertando, tenho gastado muito tempo procurando apartamentos, e atá agora nada. Com essa topografia louca e essa ocupação desordenada, as pessoas constroem muitos subsolos baratinhos, escuros e horríveis, que não vale a pena alugar. Ontem vi duas coisas no meio de "favelas desenvolvidas" perto da universidade, que eu vou te contar. A gente desanima e acaba ficando pela Barra mesmo.

A parte boa é que nós da turma estamos começando a nos entrosar (o que significa horas de mesa de bar, mesa de cantina, mesa de café...) : tem uma que gosta de samba, outra de teatro, outros de cervejas, outro de cinema (eu), ma tutti buona gente! Nessa história toda, muitos programas à vista.

sábado, abril 01, 2006

Ensaboa


Manhã de sábado de sol. Combina com ouvir Every you Every me e lavar meias e cuecas. Aquela ali do canto, azul, acho que muita gente conhece da festa de Michel. Não sei se lembram dela porque, afinal, o recheio não ajuda muito.

Sem lavadeira nem máquina, a gente fica muito mais humano. Se eu tivesse um filho hoje, o faria lavar sua roupa pra ele ver a vida com os pés um pouco mais no chão: uma coisa é saber que tudo tem seu preço (em todos os sentidos); outra é viver isso, quando for escolher a marca de leite desnatado tentando conciliar algo pagável com algo bebível.

Sentir isso aos 25 certamente é temporão. Mas é como o papai Smurf sempre diz: cada um tem seu caminho e pronto. É o seu, resta aceitá-lo. Pelo menos minha mãe me lembrou de comprar uma escovinha, que faz toda a diferença. A primeira vez, sem ela, meus dedos quase caíram de esfregar a roupa naquela superfície enrugada do tanque.