Cheguei em Salvador segunda-feira 12 e meia; 1 e meia estava em casa deixando a bagagem, e duas e meia estava chegando atrasado na aula. Depois de resolver algumas coisas, fui pegar o ônibus pra voltar pra casa.
Ia indo atravessar a rua, pensando no mundo, e esqueci de olhar pro lado esquerdo. Vinha vindo alguma coisa e me atropelou meio de lado. Caí no chão com os cotovelos e joelhos, mas não perdi a consciência nem quebrei o pescoço. Fiquei lá sentado no meio-fio tentando entender o que estava acontecendo. Por uma grande ironia, estava usando minha camisa toda pingada de vermelho, igual a sangue, e todo mundo achou que eu tinha me fodido mesmo. Em poucos minutos tinha um bocado de gente olhando, uns tentando ajudar (pegaram meu telefone e o de alguém da cidade, para chamar). Apareceu a polícia, que pegou os dados do atopelador (que tinha fugido mas acabou voltando) e logo chegou a ambulância do SAMU.
Me colocaram com aquela coleira todo amarrado na maca. Mas dentro da ambulância é que foi pior. Leila e Márcio, os responsáveis, não eram médicos, e dependiam da autorização por telefone de uma doutora não-sei-quem para me mandar pra qualquer lugar. Depois de uns 15 minutos esperando com o carro parado, a tal doutora me mandou pra SOMED. Carro solavancando, maca solavancando, acabei chegando na porta desse lugar e fiquei esperando de novo. Esperei tanto que deu tempo de chegar um cobrador de ônibus chamado Neilson, que tinha passado mal no meio do serviço, e que Leila colocou para dentro do carro, sem conseguir resolver meu problema nem o dele. Esperei ainda mais até que ele desistiu, foi embora de táxi e eu continuava deitado. Quando finalmente conseguiram me colocar dentro dessa SOMED, só deu pra eu ouvir o médico ortopedista dizendo que não ia me antender porque atropelamento era politrauma e o ortopedista deveria ser o último a atender, depois do cirurgão e não sei mais quem.
Mais tempo parado na ambulância esperando. Deu tempo de eu pedir o celular de Leila emprestado. A essa altura, já tinha dado nome e telefone a tanta gente que tive medo que a notícia já tivesse chegado em João Pessoa e a família estivesse desesperada sem notícias. Mas falei com painho, ele não sabia de nada, então deixei quieto, sem ele saber. Decidiram me levar pra um tal de Hospital Evangélico (mais ironia!), onde finalmente fui atendido. De novo minha camisa suja de "sangue" assustando as pessoas. Mas quando finalmente fizeram o raio X (durante o qual eu ia desmaiando de hipoglicemia, pois ainda não tinha almoçado e era de noite) viram que aparentemente eu não tinha nada.
Isso foi o tempo de Chico chegar. Eu tinha dado o telefone dele e de Lucinha pra o tal cara que me perguntou algum contato em Salvador, e ele me acompanhou a partir daí, o que ajudou muito. Meia hora de Profenid na veia depois, o médico (João qualquer coisa) decidiu que eu não tinha nada mesmo, enfaixou meu braço junto com o meu ombro, me passou Beserol de 8 em 8 horas e me mandou pra casa, que no caso era a casa de Chico e Lucinha. E aí fui tratado com os mimos de uma casa com filhos e cachorro (justamente aquela casa do começo do blog). Só então avisei a painho (eram 11 da noite) e pedi pra ele deixar pra avisar a mainha no outro dia de manhã.
Terça feira inteira de molho, vendo o que ia fazer. Muita muita dor e dificuldade pra levantar, sentar, deitar. Decidi esperar pra voltar pros médicos no dia seguinte porque Ana tinha um amigo médico aqui em Salvador (Dr. Fred) que me ligou e ficou de me atender na quarta, fazer raio-X e ultrassom no ombro e me encaminhar prum ortopedista da confiança dele.
Dito e feito: quarta de manhã inteira esperando por Dr. Fred, que no final acabou sendo ótimo. Mandou me desenfaixar e confirmou que eu não tinha nada. Me avisou que eu NÃO devia tomar Arcoxia caso o outro médico passasse, porque tem muita gente morrendo do coração com isso.
Finalmente, o último médico, Dr. Marcos Matos, reconfirmou que eu não tinha nada, me deu uma injeção na bunda que eu nem senti, e me passou ... ARCOXIA! terceiro momento irônico. Não tive coragem de dar o recado de Dr. Fred a ele, mandei mainha perguntar a Monca e Tio Jocélio o que fazer quanto a essa medicação, peguei outro táxi e voltei pro meu querido quarto no apartamento de Luciana.
Onde me esperava, pra minha grata surpresa, um pacote com textos que André me mandou.